segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Mentes Perigosas



Entrevista com a médica psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva sobre psicopatia, tema do livro de sua autoria Mentes Perigosas: o psicopata mora ao lado.

1ª Parte
Programa: Sem Censura - TVE Brasil
Apresentação: Leda Nagle
Participação: Gloria Perez
Exibido em 06-11-2008



2ª Parte

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Os Psicopatas Devastadores



O Psicopata
Ele domina a arte da intriga da manipulação
Mesmo porque eles são demasiadamente cerebrais
Eles não estão envolvidos emocionalmente com ninguem
Eles não sentem na verdade nenhum tipo de emoção
Eles fingem que sentem!
Representam as emoções
E assim passam como pessoas comuns
Como gente
Como todo o mundo
Eles fingem que sentem
Como o ator
São atores
Só que o palco deles
é a vida
E o enredo que eles criam
Causam reais devastações na vida das pessoas

-Entendi
Então eles nunca perdem o controle?

É,e mesmo quando eles perdem. Eles sabem onde querem chegar
Tem um Objetivo

Como é injusto taxar os psicopatas de Loucos

Texto do personagem Dr. Castanho na novela Caminho das Índias.
Todos os direitos da Rede Globo

Psicopatas e o ponto fraco



Uma das caracteristicas do psicopata eles menosprezam a capacidade dos outros, se acham superiores, são mais espertos, são mais inteligentes que todo o mundo que acabam se enrolando na própria prepotência

O senhor diria que é este o ponto fraco deles? Que é por aí que eles são pegos?
È justamente, eles não se satisfazem só em fazer.

Eles querem se exibir de alguma forma...

Texto do personagem Dr. Castanho na novela Caminho das Índias.
Todos os direitos da Rede Globo

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Sintomas Psicopatas


Principais Sintomas

1. - Encanto superficial e manipulação

Nem todos psicopatas são encantadores, mas é expressivo o grupo deles que utilizam o encanto pessoal e, conseqüentemente capacidade de manipulação de pessoas, como meio de sobrevivência social.Através do encanto superficial o psicopata acaba coisificando as pessoas, ele as usa e quando não o servem mais, descarta-as, tal como uma coisa ou uma ferramenta usada. Talvez seja esse processo de coisificação a chave para compreendermos a absoluta falta de sentimentos do psicopata para com seus semelhantes ou para com os sentimentos de seu semelhante. Transformando seu semelhante numa coisa, ela deixa de ser seu semelhante.O encanto, a sedução e a manipulação são fenômenos que se sucedem no psicopata. Partindo do princípio de que não se pode manipular alguém que não se deixe manipular, só será possível manipular alguém se esse alguém foi antes seduzido.

2. - Mentiras sistemáticas e Comportamento fantasioso.

Embora qualquer pessoa possa mentir, temos de distinguir a mentira banal da mentira psicopática. O psicopata utiliza a mentira como uma ferramenta de trabalho. Normalmente está tão treinado e habilitado a mentir que é difícil captar quando mente. Ele mente olhando nos olhos e com atitude completamente neutra e relaxada.O psicopata não mente circunstancialmente ou esporadicamente para conseguir safar-se de alguma situação. Ele sabe que está mentindo, não se importa, não tem vergonha ou arrependimento, nem sequer sente desprazer quando mente. E mente, muitas vezes, sem nenhuma justificativa ou motivo.Normalmente o psicopata diz o que convém e o que se espera para aquela circunstância. Ele pode mentir com a palavra ou com o corpo, quando simula e teatraliza situações vantajosas para ele, podendo fazer-se arrependido, ofendido, magoado, simulando tentativas de suicídio, etc.É comum que o psicopata priorize algumas fantasias sobre circunstâncias reais. Isso porque sua personalidade é narcisística, quer ser admirado, quer ser o mais rico, mais bonito, melhor vestido. Assim, ele tenta adaptar a realidade à sua imaginação, à seu personagem do momento, de acordo com a circunstância e com sua personalidade é narcisística. Esse indivíduo pode converter-se no personagem que sua imaginação cria como adequada para atuar no meio com sucesso, propondo a todos a sensação de que estão, de fato, em frente a um personagem verdadeiro.

3. - Ausência de Sentimentos Afetuosos

Desde criança se observa, no psicopata, um acentuado desapego aos sentimentos e um caráter dissimulado. Essa pessoa não manifesta nenhuma inclinação ou sensibilidade por nada e mantém-se normalmente indiferente aos sentimentos alheios.Os laços sentimentais habituais entre familiares não existem nos psicopatas. Além disso, eles têm grande dificuldade para entender os sentimentos dos outros mas, havendo interesse próprio, podem dissimular esses sentimentos socialmente desejáveis. Na realidade são pessoas extremamente frias, do ponto de vista emocional.

4. - Amoralidade

Os psicopatas são portadores de grande insensibilidade moral, faltando-lhes totalmente juízo e consciência morais, bem como noção de ética.

5. - Impulsividade

Também por debilidade do Superego e por insensibilidade moral, o psicopata não tem freios eficientes à sua impulsividade. A ausência de sentimentos éticos e altruístas, unidos à falta de sentimentos morais, impulsiona o psicopata a cometer brutalidades, crueldades e crimes.Essa impulsividade reflete também um baixo limiar de tolerância às frustrações, refletindo-se na desproporção entre os estímulos e as respostas, ou seja, respondendo de forma exagerada diante de estímulos mínimos e triviais. Por outro lado, os defeitos de caráter costumam fazer com que o psicopata demonstre uma absoluta falta de reação frente a estímulos importantes.

6. - Incorregibilidade

Dificilmente ou nunca o psicopata aceita os benefícios da reeducação, da advertência e da correção. Podem dissimular, como dissemos, durante algum tempo seu caráter torpe e anti-social, entretanto, na primeira oportunidade voltam à tona com as falcatruas de praxe.

7. - Falta de Adaptação Social

Já nos primeiros contatos sociais o psicopata, desde criança, manifesta uma certa crueldade e tendência a atividades delituosas. A adaptação social também fica comprometida, tendo em vista a tendência acentuada do psicopata ao egocentrismo e egoísmo, características estas percebidas pelos demais e responsável pelas dificuldades de sociabilidade.Mesmo no meio familiar o psicopata tem dificuldades de adaptação. Durante o período escolar tornam-se detestáveis tanto pelos professores quanto pelos colegas, embora possam dissimular seu caráter sociopático durante algum tempo. Nos empregos a inconstância é a característica principal.

Como são e agem os Psicopatas

Charme
Tem facilidade em lidar com as palavras e convencer pessoas vulneráveis. Por isso, torna-se líder com freqüência. Seja na cadeia, seja em multinacionais.

Inteligência
O QI costuma ser maior que o da média: alguns conseguem se passar por médico ou advogado sem nunca ter acabado o colegial.

Ausência de culpa
Não se arrepende nem têm dor na consciência. É mestre em botar a culpa nos outros por qualquer coisa. Tem certeza de que nunca erra.

Espírito sonhador
Vive com a cabeça nas nuvens. Mesmo se a situação do sujeito estiver miserável, ele só fala sobre as glórias que o futuro lhe reserva.

Habilidade para mentir
Não vê diferença entre sinceridade e falsidade. É capaz de contar qualquer lorota como se fosse a verdade mais cristalina.

Egoísmo
Faz suas próprias leis. Não entende o que significa “bem comum”. Se estiver tudo ok para ele, não interessa como está o resto do mundo.

Frieza
Não reage ao ver alguém chorando e termina relacionamentos sem dar explicação. Sabe o cara que “foi comprar cigarro e nunca mais voltou?” Então.

Parasitismo
Quando consegue a confiança de alguém, suga até a medula. O mais comum é pedir dinheiro emprestado e deixar para pagar no dia 31 de fevereiro.

Na Super Interessante

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Resposta CFP Mapeamento Cerebral


Resposta CFP Mapeamento Cerebral

O mapeamento mental é um avanço científico.Retrocesso é acreditar no funcionamento unidirecional

Resposta à nota jornalística "Mapeamento Cerebral é um Retrocesso" veiculada no Jornal do Conselho Federal de Psicologia edição maio de 2008.


Resposta à nota jornalística "Mapeamento cerebral é um retrocesso" veiculada no
Jornal do Conselho Federal de Psicologia edição maio de 2008.

Poucas vezes nós pesquisadores ficamos animados em escrever em jornais ou
revistas de categorias profissionais, pela crença errônea de estarmos desperdiçando
tempo ao invés de empregá-lo na elaboração de manuscritos científicos. O resultado de
tal atitude não podia ser mais desastroso: a disseminação de informação incorreta
consumida justamente por milhares de psicólogos registrados no CFP ávidos por
manter-se bem atualizados. O recente exemplo desta situação constitui a nota
jornalística intitulada "Mapeamento cerebral é um retrocesso" e publicada no jornal do
CFP na edição de maio de 2008.
Nela, encontra-se toda sorte de deslizes argumentativos, desde os que ressaltam
o que não é dito pela academia científica ("utilizar termos como 'psicopata',
'sociopata', 'mentes criminosas', para se referir a todos os adolescentes autores de
atos infracionais é, do ponto de vista teórico e legal, inadequado") até os que disfarçam
um questionamento político ("Na atualidade, abusos perpetrados nas relações de poder
não estão banidos").
A preocupação social e científica no Brasil sobre a criminalidade encontra seu
fundamento empírico em diversos dados, como os veiculados pelo ICPS (International
Centre for Prison Studies) da King's College London, um dos centros universitários
mais respeitados no mundo. Segundo informações do ICPS
[www.kcl.ac.uk/schools/law/research/icps], o Brasil apresenta uma taxa de prisões na
ordem de 220:100.000 habitantes. É a segunda mais alta na América do Sul. Na Europa,
a taxa mais alta é a da Espanha (156) e, no mundo todo, o trono pertence aos EUA
(762). Obviamente essas taxas estão sujeitas ao índice de precisão dos registros, à
eficiência policial, ao respaldo jurídico, à democracia do país, etc. Entretanto, é
especialmente interessante observar que a associação entre o nível econômico dos
contextos sociais e o índice de criminalidade é praticamente nula. Podemos citar, por
exemplo, o estudo de Beato (1998), efetuado em Minas Gerais. O autor encontrou que
pobreza relativa e pobreza absoluta explicam, respectivamente, uma variância da ordem
de 0,0139 e de 0,0266 nos índices de criminalidade. Ou seja, os fatores sócioeconômicos
apresentam um valor preditivo de quase zero.
Portanto, a crença de que as condições sociais do país ou da família são
poderosos fatores que determinam a criminalidade, especialmente a violenta,
provavelmente não é correta. Sem dúvida, são fatores adjacentes, porém menos
importantes na hora de explicar porque há diferenças individuais no comportamento de
acatar as normas básicas de cidadania. É hora então de olhar as informações produzidas
pela academia.
Existe evidência procedente dos estudos da genética comportamental de que
existe um grau de influência genética na conduta anti-social (Waldman & Rhee, 2006;
Rhee & Waldman, 2002; Lykken, 1995). Obviamente, esses fatores genéticos não se
expressam no vazio e se relacionam de forma complexa com o entorno onde residem as
pessoas. O trabalho de Caspi, McClay, Moffitt, Mill, Martin, Craig, Taylo e Poulton
(2002), publicado na prestigiosa revista Science, abriu, há seis anos, uma via
promissora de investigação sobre a relação entre genes e comportamento. Estudaram a
influência das diferenças individuais em um polimorfismo funcional do gene promotor
da MAOA (a enzima encarregada de degradar diferentes neurotransmissores) e sua
influência no comportamento anti-social de pessoas vítimas de maus-tratos na infância.
Os autores sugerem que os maus-tratos na infância predispõem mais intensamente à
violência adulta aquelas crianças cujo nível de MAOA é insuficiente para controlar as
mudanças induzidas pelos maus-tratos nos sistemas de neurotransmissão. Nesse
sentido, os autores levantaram o genótipo desse polimorfismo nos participantes do
Estudo Multidisciplinar sobre Saúde e Desenvolvimento de Dunedin. Trata-se de uma
investigação longitudinal sobre saúde, desenvolvimento e conduta, em uma coorte
completa de indivíduos nascidos entre abril de 1972 e março de 1973, na cidade de
Dunedin, Nova Zelândia. A amostra foi composta por 1.037 pessoas, avaliadas aos três,
cinco, sete, nove, onze, treze, quinze, dezoito e vinte e seis anos de idade. Entre os três
e os onze anos, 8% dos sujeitos experimentaram maus-tratos graves, 28% maus-tratos
prováveis, e 64% não foram submetidos a maus-tratos. Aos vinte e seis anos, avaliou-se
a ocorrência de comportamento anti-social via diagnóstico de problemas de conduta,
registros policiais e diagnóstico de TAP (Transtorno Anti-social da Personalidade). Os
autores encontraram que o efeito de maus-tratos na infância no comportamento antisocial
era significativamente mais fraco entre os participantes com alta atividade de
MAOA do que naqueles com uma baixa atividade dessa enzima. Esse resultado se
repetia para as diferentes medidas da conduta anti-social. Os participantes com baixa
atividade de MAOA, e que sofreram maus-tratos, eram 12% da amostra, mas
respondiam por 44% das prisões relacionadas a delitos violentos. E 85% dos
participantes nessa situação desenvolveram algum tipo de comportamento anti-social.
A relação entre elementos ambientais, como maus-tratos, e o comportamento
anti-social estava, portanto, mediada por uma diferença genética. Obviamente a relação
entre genes e conduta não é direta e o ponto em que provavelmente convergem as
influências ambientais e genéticas é o cérebro humano.
Entretanto, os pesquisadores não esperam que a relação entre cérebro e conduta
seja simples. Tampouco esperam que os diferentes aspectos cognitivos ou emocionais
se localizem em regiões delimitadas e que funcionem de forma isolada. Espera-se mais
que o comportamento humano em nível cerebral responda à atividade de múltiplas
regiões que trabalham de forma interativa (Kandel, Schwartz & Jessell, 2000).
Nesse sentido, as técnicas de neuroimagen têm permitido o estudo da estrutura e
do funcionamento de cérebros vivos e sãos, aprofundando enormemente o estudo da
relação cérebro-comportamento. E os comportamentos que são objeto de investigação
nesse campo constituem a conduta anti-social violenta e a psicopatia. Antes de ingressar
na revisão dos estudos de neuroimagen nesse campo, é importante esclarecer ambos os
conceitos.
É fato constatado pelos autores clássicos da psicopatologia moderna que existem
pessoas incapazes de ajustar-se às normas sociais. Essas pessoas têm um estilo de vida
anti-social e fazem sofrer àqueles que lhes rodeiam. Atualmente convivem duas visões
parcialmente diferentes dessas personalidades anti-sociais. O Transtorno Anti-social da
Personalidade (TAP) é definido pelo DSM-IV-TR como um "padrão estável de
desprezo e de violação aos direitos dos outros". Esse padrão está caracterizado por
condutas anti-sociais, como o delito, a mentira, a irritabilidade, a irresponsabilidade ou a
despreocupação pela segurança das outras pessoas. Junto com essa visão, co-existe o
conceito de psicopatia. A psicopatia é um grave transtorno de personalidade que se
caracteriza pela frialdade emocional e pelo fracasso reiterado no momento de ajustar-se
às normas sociais. Sua definição atual são os 20 pontos que avalia o Psychopathy
Checklist-Revised (PCL-R, Hare 2003). Tal instrumento se completa através de uma
entrevista estruturada com o avaliando e mediante a análise da documentação
disponível. Essas duas fontes de informação permitem assinalar uma pontuação em cada
um dos vinte pontos que inclui o PCL-R, e determinar se trata-se ou não de um
indivíduo psicopata. Existe ampla evidência fatorial, inclusive no Brasil conforme nosso
próprio estudo apontou (Flores-Mendoza, Alvarenga, Herrero & Abad, 2008), de que o
PCL-R avalia duas dimensões relacionadas: um fator de pobreza emocional e outro de
estilo de vida anti-social. A pobreza emocional não está contemplada no diagnóstico de
TAP, e constitui uma contribuição significativa do conceito de psicopatía. As pessoas
definidas pelo PCL-R tendem a mostrar-se frias e superficiais, mentem de forma a
conseguir seus objetivos, carecem de empatia, entediam-se com facilidade e tendem a
possuir uma visão grandiosa de si mesmos. Seu estilo de vida é parasitário, sem
objetivos realistas em longo prazo e não assumem a responsabilidade por seus atos.
No presente, existe uma grande quantidade de dados experimentais e de
associação que apóiam a validade do conceito de psicopatia. Na população
penitenciária, sua prevalência oscila entre 15 e 25%. Isso nos indica, portanto, que a
maioria dos delinqüentes não é psicopata. E quando os delinqüentes são psicopatas,
observamos que existe uma relação significativa entre o nível de psicopatia e um
número maior de sanções disciplinárias na prisão, menor idade no primeiro ingresso,
maior número e variedade de delitos, maior probabilidade de reincidência violenta e não
violenta, maior probabilidade de apresentar um transtorno por dependência de
substâncias, e maior risco de auto-lesão e suicídio. A psicopatia não é, portanto, um
conceito desprovido de realidade psico-social.
Especificamente, no que se refere à delinqüência e estudos de neuroimagen,
encontramos alguns estudos que utilizaram participantes autores de delitos violentos
(sem entrar em questões de personalidade), assim como estudos que empregaram
participantes diagnosticados como psicopatas pelo PCL-R. Os resultados apontam perfis
diferenciados em ambos os grupos. De forma consistente, encontra-se níveis menores de
atividade pré-frontal em delinqüentes violentos frente aos de controle. Por exemplo,
Raine, Buchsbaum e LaCasse (2007) encontraram menor atividade pré-frontal em 41
assassinos frente a 41 controles equivalentes em idade e sexo. Em contraste, os
trabalhos realizados especificamente com psicopatas, avaliados mediante o PCL-R,
encontraram o resultado oposto. Os psicopatas, comparados aos de controle, mostraram
maior atividade frontal (Raine & Yang, 2006). E, em nível estrutural, alguns trabalhos
encontraram uma relação negativa entre volume de substância cinzenta pré-frontal e
nível de psicopatia (Yang et al., 2005). Já os trabalhos que estudaram a atividade do
córtex temporal em delinqüentes violentos indicam uma menor atividade nessa área,
embora quase sempre associada com hipoatividade frontal. Entretanto, essa região
cortical não parece estar associada com a psicopatia.
Também se têm observado diferenças em nível subcortical. Amígdala e
hipocampo parecem ter menor atividade em delinqüentes violentos (Soderstrom,
Tullberg, Wikkelso, Ekholm & Forsman, 2000; Raine et al., 1997; Critchley, Simmons,
Daly, Russell, Amelsvoort & Robertson, 2000). No caso da psicopatia, os resultados são
contraditórios, de forma que alguns estudos encontram em grupos de psicopatas menor
atividade na amígdala e hipocampo (Kiehl et al., 2001), outros maior atividade
(Schneider et al., 2000) e ainda outros encontram uma relação nula (Soderstrom et. al.
2002). Ao menos um estudo com psicopatas encontrou uma estrutura anômala no corpo
caloso (Raine et al., 2003).
Existe, portanto, evidência científica de anomalias cerebrais em psicopatas e em
grupos mais amplos de delinqüentes violentos. Isso não quer dizer que devemos
levantar conclusões reducionistas. A constatação empírica dessas anomalias não
significa que elas constituem a única causa do comportamento anti-social grave, nem
que todas as pessoas portadoras sejam irrecuperáveis para a sociedade. Sabemos de há
muito que o desenvolvimento do cérebro humano pode melhorar mediante nutrição e
ambiente adequados; e que a atividade do cérebro adulto pode modificar-se mediante o
uso da psicofarmacologia, da experiência e do treinamento de habilidades. Mas, antes
de pensar em intervenções cegas, precisamos identificar em que medida a psicopatia se
expressa em nível de funcionamento cerebral e de que forma variáveis como idade,
sexo, educação formal interagem para sua alteração. Sendo assim, concluímos ser um
erro o de ignorar a evidência empírica mostrada pelos estudos científicos, acreditandose
que as pessoas são meras tábulas rasas em que o ambiente imprime o que quer; é um
retrocesso desprezar o avanço tecnológico nas investigações comportamentais e é uma
atitude prejudicial ao trabalho dos psicólogos ignorar as contribuições da neurociência à
explicação de um problema tão grave como é o comportamento anti-social.

Referências


Beato F.C. (1998). Determinantes da criminalidade em Minas Gerais. Revista Brasileira
de Ciências Sociais. [online], 13,74-87. Disponível em http://www.scielo.br/.
Caspi, A.; McClay, J.; Moffitt, T. E.; Mill, J.; Martin, J. Craig, I. W.; Taylor, A.;
Poulton, R. (2002): Role of genotype in the cycle of violence in maltreated children.
Science, Vol. 297, 851-854.
Critchley, H. D., Simons, A., Daly, E. M., Russell, A. van Amelsvoort, T. & Robertson,
D. M. (2000). Prefrontal and medial temporal correlates of repetitive violence to self
and others. Biological Psychiatry, 47, 928-934.
Flores-Mendoza, C.E., Alvarenga, M. A. S., Herrero, O. & Abad, F.J. (2008). Factor
structure and behavioural correlates of the Psychopathy Checklist-Revised [PCL-R] in a
Brazilian prisoner sample. Personality and Individual Differences, 45, 584-590.
Hare, R. D. (2003). The Hare Psychopathy Checklist- Revised, 2nd edition. Toronto,
ON, Canada: Multi Health Systems.
Kandel, E.R., Schwartz, J.H., Jessell, T.M. (2000). (Eds.). Principles of neural science
(4th ed., pp. 1247–1279). New York: McGraw-Hill.
Kiehl, K. A., Smith, A. M., Hare, R. D., Mendrek, A., Forster, B. B., & Brink, J. (2001).
Limbic abnormalities in afective processing by criminal psychopaths as revealed by
functional magnetic resonance imaging. Biological Psychiatry, 50, 677-684.
Lykken, D. T. (1995). The antisocial personalities. Hillsdale. NJ: Erlbaum
Raine, A., & Yang, Y. (2006) Neuroanatomical bases of psychopathy. En Patrick, C.J.
(Ed.) Handbook of Psychopathy. New York: Guilford.
Raine, A., Buchsbaum, M. & LaCasse, L. (1997). Brain abnormalities in murderers
indicated by positron emission tomography. Biological Psychiatry, 42, 495-508.
Raine, A., Lencz, T. & Taylor, K. et al. (2003). Corpus Callosum abnormalities in
psychopathic antisocial individuals, Archives of General Psychiatry, 60, 1134–1142
Rhee, S. H., Waldman, I. D. (2002). Genetic and environmental influences on antisocial
behavior: A meta-analysis of twin and adoption studies. Psychological Bulletin, Vol.
128, No. 3, 490-529.
Schneider, F., Habel, U., Kessler, C., Posse, S., Grodd, W., & Muller-Gartner, H. W.
(2000). Functional imaging of conditioned aversive emotional responses in antisocial
personality disorder. Neuropsychobiology, 42, 192-201.
Soderstrom, H., Hultin, L., Tullberg, M., Wikkelsoe, C., Ekholsm S. & Forsman, A.
(2000). Reduced regional cerebral blood flow in non-psychotic violent offenders.
Psychiatry Research: Neuroimaging, 98, 29-41.
Soderstrom, H., Hultin, L., Tullberg, M., Wikkelso, C, Ekholm, S., & Forsman, A.
(2002). Reduced frontotemporal perfusion in psychopathic personality. Psychiatry
Research Neuroimaging, 114, 81-94.
Waldman, I. D. & Rhee, S. H. (2006). Genetic and environmental influences on
psychopathy and antisocial behavior. En Patrick, C.J. (Ed.) Handbook of Psychopathy.
New York: Guilford.
Yang, Y.L., Raine, A., Lencz, T., Bihrle, S., Lacasse, L. & Colletti, P. (2005) Volume
reduction in prefrontal gray matter in unsuccessful criminal psychopaths. Biological
Psychiatry, 57, 1109-1116.

Dra. Carmen Flores-Mendoza [Universidade Federal de Minas Gerais]
Ms. Marco Antonio Silva Alvarenga [Universidade Federal de Minas Gerais]
Dr. Oscar Herrero [Universidad Autónoma de Madrid]
http://www.fafich.ufmg.br/ladi/node/48
Da UFMG
Nota elaborada pela CNDH a partir do conteúdo da carta acima citada, encaminhada ao CFP
http://www.fafich.ufmg.br/ladi/node/50

Seu amigo Psicopata

Cinco milhões de brasileiros são incapazes de sentir emoções. Eles podem até matar sem culpa e estão incógnito sao seu lado. Agora, a ciência começa a desvendá-los.

por Texto Leandro Narloch

Tinha alguma coisa errada com o Guilherme. Desde quando era pequeno, 4 anos de idade, a mãe, Norma*, achava que ele não era uma criança normal. O guri não tinha apego a nada, era frio, não obedecia a ninguém. O problema ficou claro aos 9 anos. Guilherme, nome fictício de um rapaz do Guarujá, litoral de São Paulo, que hoje tem 28 anos, roubava os colegas da escola, os vizinhos e dinheiro em casa. Também passou a expressar uma enorme capacidade de fazer os outros acreditar no que inventava. Aos 18, o garoto conseguiu enganar uma construtora e comprar um apartamento fiado. "Quando um primo da mesma idade morreu de repente, ele só disse 'que pena' e continuou o que estava fazendo", conta a mãe. Tinha alguma coisa errada com o Guilherme.

Em busca de uma solução, Norma passou 15 anos rodando com o filho entre psicólogos, psiquiatras, pediatras e até benzedeiros. Para todos, ele não passava de um garoto normal, com vontades e birras comuns. "Diziam que era mimo demais, que não soubemos impor limites." Uma pista para o problema do filho só apareceu em 2004. A mãe leu uma entrevista sobre psicopatia e resolveu procurar psiquiatras especializados no assunto. Então descobriu que o filho sofre da mesma doença de alguns assassinos em série e também de certos políticos, líderes religiosos e executivos. "Apenas confirmei o que já sabia sobre ele", diz Norma. "Dói saber que meu filho é um psicopata, mas pelo menos agora eu entendo que problema ele tem."

Guilherme não é um assassino como o Maníaco do Parque ou o Chico Picadinho. Mas todos eles sofrem do mesmo problema: uma total ausência de compaixão, nenhuma culpa pelo que fazem ou medo de serem pegos, além de inteligência acima da média e habilidade para manipular quem está em volta. A gente costuma chamar pessoas assim de monstros, gênios malignos ou coisa que o valha. Mas para a Organização Mundial da Saúde (OMS), eles têm uma doença, ou melhor, deficiência. O nome mais conhecido é psicopatia, mas também se usam os termos sociopatia e transtorno de personalidade anti-social.

Com um nome ou outro, não se trata de raridade. Entre os psiquiatras, há consenso quanto a estimativas surpreendentes sobre a psicopatia. "De 1% a 3% da população tem esse transtorno. Entre os presos, esse índice chega a 20%", afirma a psiquiatra forense Hilda Morana, do Instituto de Medicina Social e de Criminologia do Estado de São Paulo (Imesc). Isso significa que uma pessoa em cada 30 poderia ser diagnosticada como psicopata. E que haveria até 5 milhões de pessoas assim só no Brasil. Dessas, poucas seriam violentas. A maioria não comete crimes, mas deixa as pessoas com quem convive desapontadas. "Eles andam pela sociedade como predadores sociais, rachando famílias, se aproveitando de pessoas vulneráveis e deixando carteiras vazias por onde passam", disse à SUPER o psicólogo canadense Robert Hare, professor da Universidade da Colúmbia Britânica e um dos maiores especialistas no assunto.

Os psicopatas que não são assassinos estão em escritórios por aí, muitas vezes ganhando uma promoção atrás da outra enquanto puxam o tapete de colegas. Também dá para encontrá-los de baciada entre políticos que desviam dinheiro de merenda para suas contas bancárias, entre médicos que deixam pacientes morrer por descaso, entre "amigos" que pegam dinheiro emprestado e nunca devolvem... Lendo esta reportagem, não se surpreenda se você achar que conhece algum. Certamente você já conheceu.

Amigo da onça

O psicólogo Robert Hare tinha acabado de sair da faculdade, na década de 1960, quando arranjou um emprego no presídio de Vancouver. Função: atender os presos com problemas e montar diagnósticos de sanidade para pedidos de condicional. Lá conheceu o simpático Ray, um dos presos. Era um sujeito legal, contava histórias envolventes e tinha um sorriso que deixava qualquer um confortável. Como o sujeito parecia aplicado e dedicado a ter uma vida correta depois da prisão, o doutor resolveu ajudá-lo em pedidos de transferência para trabalhos melhores na cadeia, tipo a cozinha e a oficina mecânica. Os dois ficaram amigos. Mas Ray não era o que parecia. Hare descobriu que o homem usava a cozinha para produzir álcool e vender aos colegas. Os funcionários do presídio também alertaram o psicólogo dizendo que ele não tinha sido o primeiro a ser ludibriado pelo "gente boa" Ray. E que a falta de escrúpulos do preso não tinha limites. Pouco depois, Hare sentiu isso na pele: teve os freios de seu carro sabotados pelo "amigo" presidiário.

Ray não era único ali. Boa parte de seus colegas no presídio de Vancouver era formada por sujeitos alegres, comunicativos e cheios de amigos que também eram egocêntricos, sem remorso e não mudavam de atitude nem depois de semanas na solitária. Nas prateleiras sobre doenças mentais, havia várias descrições parecidas. O francês Philip Pinel, um dos pais da psiquiatria, escreveu no século 18 sobre pessoas que sofriam uma "loucura sem delírio". Mas o primeiro estudo para valer sobre psicopatia só viria em 1941, com o livro The Mask of Sanity ("A Máscara da Sanidade", sem tradução para o português), do psiquiatra americano Hervey Cleckley. Ele dedica a obra a um problema "conhecido, mas ignorado" e cita casos de pacientes com charme acima da média, capacidade de convencer qualquer um e ausência de remorso. Com base nesses estudos, Robert Hare passou 30 anos reunindo características comuns de pessoas assim, até montar sua escala Hare, o método para reconhecer psicopatas mais usado hoje.

Trata-se de um questionário com perguntas sobre a vida do sujeito, feito para investigar se ele tem traços de psicopatia. Seja como for, não é fácil identificar um. Psicopatas não têm crises como doentes mentais: o transtorno é constante ao longo da vida. Outras funções cerebrais, como a capacidade de raciocínio, não são afetadas. Algumas características, no entanto, são evidentes.

Segredos e mentiras

Atributo número 1: mentir. Todo mundo mente, mas psicopatas fazem isso o tempo todo, com todo mundo. Inclusive com eles mesmos. São capazes de dizer "Já saltei de pára-quedas" e, logo depois, "Nunca andei de avião", sem achar que existe uma grande contradição aí. Espertos, não se contentam só em dizer que são neurocirurgiões, por exemplo, sem nunca ter completado o colegial: usam e abusam de termos técnicos das profissões que fingem ter. Se o sujeito finge ser advogado, manda ver nos "data venias" da vida. Se diz que estudou filosofia, vai encher o vocabulário de expressões tipo "dialética kantiana" sem fazer idéia do que isso significa. Sim, eles são profissionais da lorota.

"Depois que descobri as mentiras que ele me contou, passei um tempo me perguntando como tinha sido tão burra para acreditar naquilo", diz a professora carioca Ana*. Há 9 anos, ela conheceu um cara incrível. Ele dizia que, com apenas 27 anos, era diretor de uma grande companhia e que, por causa disso, viajava sempre para os EUA e para a Europa. Atencioso e encantador, Cláudio era o genro que toda sogra queria ter. "Em 5 meses, a gente estava quase(casando. Então a mãe dele revelou que era tudo mentira, que o filho era doente, enganava as pessoas desde criança e passava por um tratamento psiquiátrico."

Ana largou Cláudio e foi tocar a vida. Mas nem sempre quem passa pelas mãos de um psicopata "pacífico" tem tempo para reorganizar as coisas. Que o digam as pessoas que cruzaram o caminho de Alessandro Marques Gonçalves. Formado em direito, ele resolveu fingir que era médico. E levou esse delírio às últimas conseqüências: forjou documentos e conseguiu trabalho em 3 grandes hospitais paulistas. Enganou pacientes, chefes e até a mulher, que espera um filho dele e não fazia idéia da fraude. Desmascarado em fevereiro de 2006, Alessandro aleijou pelo menos 23 pessoas e é suspeito da morte de 3.

"Ele usa termos técnicos e fala com toda a naturalidade. Realmente parece um médico", diz o delegado André Ricardo Hauy, de Lins, que o interrogou. "Também acha que não está fazendo nada de errado e diz, friamente, que queria fazer o bem aos pacientes." Quando foi preso, Alessandro não escondeu a cabeça como os presos geralmente fazem: deixou-se filmar à vontade.

"O diagnóstico de transtorno anti-social depende de um exame detalhado, mas dá para perceber características de um psicopata nesse falso médico. É que, além de mentir, ele mostra ausência de culpa", afirma o psiquiatra Antônio de Pádua Serafim, do Hospital das Clínicas de São Paulo.

E esse é um atributo-chave da mente de um psicopata: cabeça fresca. Nada deixa esses indivíduos com peso na consciência. Fazer coisas erradas, todo mundo faz. Mas o que diferencia o psicopata do "todo mundo" é que um erro não vai fazer com que ele sofra. Sempre vai ter uma desculpa: "Um cara que matou 41 garotos no Maranhão, Francisco das Chagas, disse que as vítimas queriam morrer", conta Antônio Serafim.

Justamente por achar que não fazem nada de errado, eles repetem seus erros. "Psicopatas reincidem 3 vezes mais que criminosos comuns", afirma Hilda Morana, que traduziu e adaptou a escala Hare para o Brasil. "Tem mais: eles acham que são imunes a punições." E isso vale em qualquer situação. Até na hora de jogar baralho.

Foi o que mostrou o psicólogo americano Joe Newman num experimento em 1987. No laboratório, havia 4 montes de cartas. Sem que os jogadores soubessem, um deles estava cheio de cartas premiadas. Ou seja: quem escolhesse aquele monte ganhava mais dinheiro e continuava no jogo. Aos poucos, porém, a quantidade de cartas boas rareava, até que, em vez de dar vantagem, escolher aquele monte passava a dar prejuízo. Pessoas comuns que participaram da pesquisa logo perceberam a mudança e deixaram de apostar nele. Psicopatas, porém, seguiram tentando obter a recompensa anterior. "Pessoas comuns mudam de estratégia quando não obtêm recompensa", afirma o neurocientista James Blair, autor do livro The Psychopath – Emotion and the Brain ("O Psicopata – Emoção e o Cérebro", sem edição brasileira). "Mas crianças e adultos com tendências psicopáticas continuam a ação mesmo sendo repetidamente punidos com a perda de pontos."

Psicopatas não aprendem com punições. Não adianta dar palmadas neles.

Além disso, psicopata que se preze se orgulha de suas mancadas. Esse sujeito pode ser o marido que trai a mulher e se gaba para os amigos. Ou coisa pior. Veja o caso do promotor de eventos Michael Alig. Querido por todos, ele difundiu a cultura clubber em Nova York, organizando festas itinerantes. E em 1996 ele matou um amigo em casa. Quando o corpo começou a feder, retalhou-o e jogou os pedaços no rio Hudson. Dias depois, em um programa de TV, Alig simplesmente descreveu o assassinato, todo pimpão. Os jornalistas acharam que era só uma brincadeira besta, claro. Dias depois, a polícia achou o corpo do amigo de Alig no rio. Ele foi condenado a 20 anos de prisão – sem perder a pose.

Isso é lugar-comum entre os psicopatas. O próprio psiquiatra Antônio Serafim está acostumado com relatos grandiosos de carnificinas: "Quando você pergunta sobre a destreza com que cometeram os crimes, eles contam detalhes dos assassinatos, cheios de orgulho."

Zumbis

Se você estivesse indo comprar cerveja perto de casa e se desse conta que esqueceu a carteira, o que faria? Em vez de voltar para buscar dinheiro, um psicopata da Califórnia preferiu catar um pedaço de pau, bater num homem e levar o dinheiro dele. Também tem o caso de uma mulher que deixou a filha de 5 anos ser estuprada pelo namorado. Perguntada por que deixou aquilo acontecer, ela disse: "Eu não queria mais transar, então deixei que ele fosse com a minha filha."

Eis mais um traço psicopático. "Eles tratam as pessoas como coisas", afirma o psiquiatra Sérgio Paulo Rigonatti, do Instituto de Psiquiatria do HC. Isso acontece porque eles simplesmente não assimilam emoções. Para entender isso melhor, vamos dar um passeio pelo inferno.

Corpos decapitados, crianças esquálidas com moscas nos olhos, torturas com eletrochoque, gemidos desesperados. Só de imaginar cenas assim, a reação de pessoas comuns é ter alterações fisiológicas como acelerar as batidas do coração, intensificar a atividade cerebral e enrijecer os músculos. Em 2001, o psiquiatra Antônio Serafim colocou presos de São Paulo para assistir a cenas assim. Cada um ouvia, por um fone, sons desagradáveis, como gritos de desespero. "Os criminosos comuns tiveram reações físicas de medo", diz ele. "Já os identificados como psicopatas não apresentaram sequer variação de batimento cardíaco."

Mais: uma série de estudos do Instituto de Neurociência Cognitiva, nos EUA, mostrou que psicopatas têm dificuldade em nomear expressões de tristeza, medo e reprovação em imagens de rostos humanos. "Outros 3 estudos ligaram psicopatia com a falta de nojo e problemas em reconhecer qualquer tipo de emoção na voz das pessoas", afirma Blair.

É simples: assim como daltônicos não conseguem ver cores, psicopatas são incapazes de enxergar emoções. Não as enxergam nem as sentem, pelo menos não do mesmo jeito que os outros fazem. Em vez disso, eles só teriam o que os psiquiatras chamam de proto-emoções – sensações de prazer, euforia e dor menos intensas que o normal. "Isso impede os psicopatas de se colocar no lugar dos outros", diz Hilda Morana.

Um dos pacientes entrevistados por Hare confirma: "Quando assaltei um banco, notei que uma caixa começou a tremer e a outra vomitou em cima do dinheiro, mas não consigo entender por quê", disse. "Na verdade, não entendo o que as pessoas querem dizer com a palavra 'medo' ".

No livro No Ventre da Besta – Cartas da Prisão, o escritor americano Jack Abbott descreve com honestidade o que acontece na sua cabeça de psicopata: "Existem emoções que eu só conheço de nome. Posso imaginar que as tenho, mas na verdade nunca as senti".

É como se eles entendessem a letra de uma canção, mas não a música. Esse jeito asséptico de ver o mundo faz com que um psicopata consiga mentir sem ficar nervoso, sacanear os outros sem sentir culpa e, em casos extremos, retalhar um corpo com o mesmo sangue-frio de quem separa as asinhas do peito de um frango assado.

Cérebros em curto

Ok, o problema central dos psicopatas é que eles não conseguem sentir emoções. Mas por que isso acontece? "A crença de que tudo é causado por famílias instáveis ou condições sociais pobres nos faz fingir que o problema não existe", afirma Hare.

Para a neurologia, a coisa é mais objetiva: os "circuitos" do cérebro de um psicopata são fisicamente diferentes dos de uma pessoa normal. Uma descoberta importante foi feita pelo neuropsiquiatra Ricardo de Oliveira-Souza e pelo neurologista Jorge Moll Neto, pesquisador do Instituto Nacional de Distúrbios Neurológicos dos EUA. Em 2000, os dois identificaram, com imagens de ressonância magnética, as partes do cérebro ativadas quando as pessoas fazem julgamentos morais. Os participantes da pesquisa tiveram o cérebro mapeado enquanto decidiam se eram certas ou erradas frases como "podemos ignorar a lei quando necessário" ou "todos têm o direito de viver", além de outras sem julgamento moral, como "pedras são feitas de água". A maioria dos voluntários ativou uma área bem na testa, chamada Brodmann 10, ao responder às perguntas.

E aí vem o pulo-do-gato: a dupla repetiu o estudo em 2005 com pessoas identificadas como psicopatas, e descobriu que elas ativam menos essa parte do cérebro. Daí a incompetência que os sujeitos com transtorno anti-social têm para sentir o que é certo e o que é errado. Agora, resta saber se essas deficiências vêm escritas no DNA ou se surgem depois do nascimento.

Hoje, se sabe que boa parte da estrutura cerebral se forma durante a vida, sobretudo na infância. Mas cientistas buscam uma causa genética porque a psicopatia parece surgir independentemente do contexto ou da educação. "Nascem tantos psicopatas na Suécia ou na Finlândia quanto no Brasil", afirma Hilda Morana. "Os pais costumam se perguntar onde foi que erraram." A impressão é que psicopatas nasceram com o problema. "Eles também surgem em famílias equilibradas, são irmãos de pessoas normais e deixam seus pais perplexos", afirma Oliveira-Souza.

James Blair vai pela mesma linha: "Estudos com pessoas da mesma famíla, gêmeos e filhos adotados indicam que o comportamento dos psicopatas e as disfunções emocionais são coisas hereditárias", afirma.

Cobras de terno

Mesmo quem defende uma origem 100% genética para a psicopatia não descarta a importância do ambiente. A criação, nessa história, seria fundamental para determinar que tipo de psicopata um camarada com tendência vai ser.

"Fatores sociais e práticas familiares influenciam no modo como o problema será expresso no comportamento", afirma Rigonatti. Por exemplo: psicopatas que cresceram sofrendo ou presenciando agressões teriam uma chance bem maior de usar sua "habilidade" psicopática para matar pessoas.

Um bom exemplo desse tipo é o americano Charles Manson. Filho de uma prostituta alcoólatra e dono de uma mente pra lá de sociopata, transformou um punhado de hippies da Califórnia em um grupo paramilitar fanático nos anos 70. Manson foi responsável pela carnificina na casa do cineasta Roman Polanski. Entre os 5 mortos, estava a atriz Sharon Tate, mulher do diretor e grávida de 8 meses. Detalhe: ele nem sequer participou da ação. Só usou sua capacidade de liderança para convencer um punhado de seguidores a realizar o massacre.

Já os que vêm de famílias equilibradas e viveram uma infância sem grandes dramas teriam uma probabilidade maior de se transformar naqueles que mentem, trapaceiam, roubam, mas não matam. Mais de 70% dos psicopatas diagnosticados são desse grupo, mas não há motivo para alívio. Psicopatas infiltrados na política, em igrejas ou em grandes empresas podem fazer estragos ainda piores.

Exemplos não faltam. O político absurdamente corrupto que é adorado por eleitores, cativa jornalistas durante entrevistas, não entra em contradição nem parece sentir culpa por ter recheado suas contas bancárias com dinheiro público é um. O líder religioso que enriquece à custa de doações dos fiéis é outro. E por aí vai.

"Eles costumam se dar bem em ambientes pouco estruturados e com pessoas vulneráveis. Agem como cartomantes, pais de santo, líderes messiânicos", afirma Oliveira-Souza. Psicopatas não tão fanáticos, mas com a mesma falta de escrúpulos, também estão em grandes empresas, sugando dinheiro e tornando a vida dos colegas um inferno.

A habilidade para mentir despudoradamente sem levantar suspeitas faz com que eles se dêem bem já nas entrevistas de emprego. O charme que eles simulam ajuda a conquistar a confiança dos chefes e a pressionar para que colegas que atrapalham sua ascensão profissional acabem demitidos. Não raro, costumam ocupar os cargos hierárquicos mais altos.

O psicólogo ocupacional Paul Babiak cita o exemplo de Dave, um executivo de uma empresa americana de tecnologia. Logo na primeira semana, o chefe notou que ele gastava mais tempo criando picuinhas entre os funcionários do que trabalhando e plagiava relatórios sem medo de ser pego. Quando o chefe recomendou sua demissão, Dave foi reclamar aos chefes do seu chefe. Com sua lábia, conseguiu ficar dois anos na empresa, sendo promovido duas vezes, até causar um rombo na firma e sua máscara cair. "Certamente há mais psicopatas no mundo dos negócios que na população em geral", diz o psiquiatra Hare, que escreveu com Babiak o livro Snakes in Suits – When Psychopaths Go to Work ("Cobras de Terno – Quando Psicopatas vão Trabalhar", inédito no Brasil). Para ele, sociopatas corporativos são responsáveis por escândalos como o da Enron, em 2002, quando a empresa americana mentiu sobre seus lucros para bombar preços de ações. "O poder e o controle sobre os outros tornam grandes empresas atraentes para os psicopatas", diz.

O que fazer?

Seja nas empresas, nas ruas, ou numa casinha de sapê, nossos amigos com transtorno anti-social são tecnicamente incapazes de frear seus impulsos sacanas. Mas, para os psiquiatras, essa limitação não significa que eles não devam ser responsabilizados pelo que fazem. "Psicopatas têm plena consciência de que seus atos não são corretos", afirma Hare. "Apenas não dão muita importância para isso." Se cometem crimes, então, devem ir para a cadeia como os outros criminosos.

Só que até depois de presos psicopatas causam mais dores de cabeça que a média dos criminosos. Na cadeia, tendem a se transformar em líderes e agir no comando de rebeliões, por exemplo. "Mas nunca aparecem. Eles sabem como manter suas fichas limpas e acabam saindo da prisão mais cedo", diz Antônio de Pádua Serafim.

Por conta disso, a psiquiatra forense Hilda Morana foi a Brasília em 2004 tentar convencer deputados a criar prisões especiais para psicopatas. Conseguiu fazer a idéia virar um projeto de lei, que não foi aprovado. Nas prisões brasileiras, não há procedimento de diagnóstico de psicopatia para os presos que pedem redução da pena. "Países que aplicam o diagnóstico têm a reincidência dos criminosos diminuída em dois terços, já que mantêm mais psicopatas longe das ruas", diz ela. Tampouco há procedimentos para evitar que psicopatas entrem na polícia – uma instituição teoricamente tão atraente para eles quanto as grandes empresas. Também não há testes de psicopatia na hora de julgar se um preso pode partir para um regime semi-aberto. Nas escolas, professores não estão preparados para reconhecer jovens com o transtorno.

"Mesmo dentro da psiquiatria existe pouca gente interessada no assunto, já que os psicopatas não se reconhecem como tal e dificilmente vão mudar de comportamento durante a vida", diz o psiquiatra João Augusto Figueiró, de São Paulo. Também não existem tratamentos comprovados nem remédios que façam efeito. Outro problema: quando levados a consultórios, os psicopatas acabam ficando piores. Eles adquirem o vocabulário dos especialistas e se munem de desculpas para justificar seu comportamento quando for necessário. Diante da falta de perspectiva de cura, quem convive com psicopatas no dia-a-dia opta por vigiá-los o máximo possível. É o que faz a dona-de-casa Norma, do Guarujá, com o filho Guilherme. "Enquanto eu e o pai dele estivermos vivos, podemos tomar conta", diz. "Mas... e depois?"

Meu filho psicopata*

"Ele mentia muito. Armava um teatro para nos transformar em culpados. Não tinha apego nem responsabilidade. Não evitava falar coisas que deixassem os outros magoados. Nunca pensou que, se fizesse alguma coisa ruim, os pais ficariam bravos. Na escola, ele não obedecia a ordens. Se não queria fazer a lição, não tinha ninguém que o convencesse. A inteligência dele até era acima da média, mas um mês ele tirava 10 em tudo e no outro tirava 0. Dos 3 aos 25 anos, ele rodou comigo por psicólogos. Foi uma busca insana. Começamos a tratar pensando que era hiperatividade, ele tomou antidepressivos e outros remédios. Nada deu certo. Pessoas como o meu filho conseguem manipular psicólogos com facilidade. E os pais se tornam os grandes culpados. Quando descobri o problema, com uma psiquiatra, foi uma luz para mim. Hoje sei que pessoas como ele inventam um mundo na cabeça. É um sofrimento para os pais que convivem com crianças ou com adultos assim. Hoje, temos que vigiá-lo e carregá-lo pela mão para tudo que é canto. Senão, ele rouba coisas ou arma histórias. Fica 3 meses em cada emprego e pára, diz que não está bom. O problema nunca é com ele, sempre os outros é que estão errados. Eu ainda torço para que tenha um remédio, porque viver assim é muito ruim. Se está tudo bem agora, você não sabe qual vai ser a reação daqui a 5 minutos. É como uma bomba relógio, uma panela de pressão que vai explodir. Nunca dá pra saber exatamente o que ele pensa nem para acreditar em alguma coisa que ele promete. Às vezes penso que deveriam criar uma sociedade paralela só para sociopatas, mas uns matariam os outros, com certeza. Para não correr o risco de botar no mundo outra pessoa dessas, convencemos nosso filho a fazer vasectomia. Dói muito dizer que seu filho é um psicopata, mas fazer o quê? Matar você não pode. Tem que ir convivendo na esperança de que um dia a medicina dê conta de casos assim."

*Depoimento de Norma, 50 anos, dona-de-casa do Guarujá (SP), mãe de Guilherme, 28, diagnosticado como psicopata.

 

As características de um psicopata

Charme

Tem facilidade em lidar com as palavras e convencer pessoas vulneráveis. Por isso, torna-se líder com freqüência. Seja na cadeia, seja em multinacionais.

Inteligência

O QI costuma ser maior que o da média: alguns conseguem se passar por médico ou advogado sem nunca ter acabado o colegial.

Ausência de culpa

Não se arrepende nem têm dor na consciência. É mestre em botar a culpa nos outros por qualquer coisa. Tem certeza de que nunca erra.

Espírito sonhador

Vive com a cabeça nas nuvens. Mesmo se a situação do sujeito estiver miserável, ele só fala sobre as glórias que o futuro lhe reserva.

Habilidade para mentir

Não vê diferença entre sinceridade e falsidade. É capaz de contar qualquer lorota como se fosse a verdade mais cristalina.

Egoísmo

Faz suas próprias leis. Não entende o que significa "bem comum". Se estiver tudo ok para ele, não interessa como está o resto do mundo.

Frieza

Não reage ao ver alguém chorando e termina relacionamentos sem dar explicação. Sabe o cara que "foi comprar cigarro e nunca mais voltou?" Então.

Parasitismo

Quando consegue a confiança de alguém, suga até a medula. O mais comum é pedir dinheiro emprestado e deixar para pagar no dia 31 de fevereiro.

Para saber mais

The Psychopath - James Blair e outros, Blackwell, EUA, 2006

Without Conscience - Robert Hare, Guilford, EUA,1993

The Sociopath Next Door - Martha Stout, Broadway, EUA, 2005
 

A mente do Psicopata

O neurologista americano Jonathan Pincus diz que um assassino frio é fruto de doenças mentais, danos neurológicos e abuso infantil

Rodrigo Cavalcante

Imagine se você tivesse que trabalhar frente a frente com um dos mais perigosos assassinos do seu país. Esse é o trabalho do neurologista americano Jonathan Pincus, que, em 25 anos de profissão, já conversou com mais de 150 psicopatas em busca dos motivos que os levaram a cometer crimes cruéis. Chefe de Neurologia do Hospital dos Veteranos de Washington e professor de Medicina na Universidade Georgetown, ele esteve ao lado de gente como Kip Kinkell, o estudante de 15 anos que chocou o mundo em 1998 depois de matar o pai e a mãe e metralhar os colegas de escola em Springfield, Oregon, Estados Unidos. Autor do livro Base Instincts – What Makes Killers Kill (Instintos básicos – O que faz matadores matarem, inédito no Brasil), ele diz que é uma simplificação dizer que a pobreza é a causa dos crimes cruéis.

Super – Em seu livro, você diz que doenças mentais, danos neurológicos e abusos infantis estão presentes na formação de um assassino frio. Isso é verdade em todos os casos?

Somados, esses três fatores estão presentes em dois terços dos assassinos cruéis. Nos outros casos, você encontra pelo menos uma ou duas dessas causas. É claro que a doença mental, sozinha, não é suficiente para causar a violência – já que a imensa maioria dos doentes mentais não são violentos, assim como inúmeras pessoas que sofreram danos neurológicos. Também é claro que a experiência de ter sofrido o abuso infantil nem sempre basta para acionar a violência. Mas, quando estão juntos, esses fatores minam a capacidade do cérebro de conter os impulsos da violência.

O senhor nunca esteve ao lado de um assassino sem esses pré-requisitos?

Recentemente estive horas com Russell Weston, que atirou e matou dois guardas dentro do Capitólio dos Estados Unidos, o prédio do Congresso americano. Ele não tinha danos neurológicos e acredito que não sofreu abuso na infância. Mas, alguns anos antes, em Montana, ele já havia estado em uma instituição mental por ouvir vozes. Há pessoas que são neurologicamente sadias e que, ao tomar drogas, ficam alucinadas e matam. Mas esses casos são raros e é preciso investigar com cuidado. As pessoas tendem a minimizar ou negar que sofreram abuso infantil. Em alguns casos, precisei de um esforço extraordinário para saber o que realmente ocorreu. Estive com um homem que estuprou e matou uma mulher. Quando tinha oito anos, ele havia sido estuprado por um tio. Sua irmã viu o abuso – ela também foi violentada. O criminoso chegou a afirmar que não gostava desse tio mas não sabia a origem da repulsa.

Você não acredita que uma pessoa normal possa cometer crimes violentos?

Eu ainda não vi um caso desses. Há 25 000 assassinatos nos Estados Unidos todos os anos. Eu estudei só 150. Talvez seja uma questão de amostra. Por outro lado, 150 é um bom número. Ainda não temos como explicar por que algumas pessoas são vulneráveis e não são violentas. Mas há momentos em que, se você tem alguns dos problemas que citei, estará mais propenso a agir dessa forma.

Psicopatas têm livre-arbítrio?

Têm. A diferença é que o escopo desse livre-arbítrio é mais restrito. Imagine um psicopata como uma espécie de compositor que escreve uma sinfonia e precisa de uma orquestra para apresentar seu trabalho. A apresentação da orquestra é terrível. Você pode imaginar que o problema está no compositor, mas descobre que a orquestra está cheia de instrumentos quebrados. O cérebro de um psicopata é como uma orquestra com instrumentos quebrados por doença mental, danos neurológicos e traumas de abuso infantil. Para que sua apresentação não fosse tão ruim, o compositor teria que ter se esforçado mais do que as outras pessoas para não cometer alguns desses atos de violência. A punição deve levar em conta que havia fatores que ele não controlava – acho que a pena de morte nesses casos é muito severa. Mesmo assim, ele tinha algum discernimento sobre os seus atos.

Um psicopata pode ser reabilitado?

Não.

Se não há recuperação, como o Estado deve lidar com essas pessoas?

Prendendo-as num ambiente com psiquiatras e medicação apropriada.

Por que psicopatas não sentem remorso?

Remorso é algo que vem do nosso cérebro, assim como todos os nossos sentimentos e pensamentos. Quando o cérebro está danificado, a capacidade de sentir remorso também fica danificada. Um assassino frio até sabe que está errado. A diferença é que ele não consegue sentir que está errado.

A genética tem algum papel na predisposição para algum comportamento criminoso?

Não acredito que os genes sejam responsáveis. Apenas no sentido limitado de que algumas doenças psiquiátricas são genéticas. Alguns estudos feitos na Escandinávia compararam o comportamento de filhos biológicos e filhos adotados para ver se poderia haver algum traço hereditário de violência. O resultado mostrou que quando os filhos de pais violentos crescem ao lado de pais não-violentos eles não mostram nenhuma tendência para a violência. Mas quando os pais adotivos são violentos, as crianças sempre se tornam agressivas.

Há como descobrir se alguém vai se tornar um criminoso no futuro?

Não. Há um homem chamado Joel Rifkin que matou 16 prostitutas em Nova York. Ele matou a primeira quando tinha 32 anos e agora está preso. Se eu tivesse visto ele antes dos 32 anos, poderia ter concluído que ele tinha problemas neurológicos, sofreu abuso infantil e tinha fantasias estranhas com prostitutas... Ele nunca havia sido violento antes, embora houvesse pensado em matar pessoas durante um bom tempo. Mas você não pode punir pessoas por suas fantasias. Seria difícil também prever seus atos já que nem todas as pessoas com esses três fatores são violentas.

Não há nada a fazer?

Acho que a sociedade pode se concentrar na luta contra a violência e o abuso infantil – é aí que está a relação entre pobreza e a formação de assassinos, uma vez que a violência infantil é mais comum em regiões pobres. Isso tem que se tornar algo inaceitável – e não uma questão particular sobre o jeito que cada um trata seus filhos. A sociedade tem um grande papel para evitar o abuso sexual e a violência – identificando pessoas que são violentas com crianças para reeducá-las. Alguns casos são resultado de pura ignorância. Um exemplo é uma mãe segurando um bebê que começa a chorar. Ela troca a fralda da criança e o bebê continua chorando. Põe a mamadeira e a criança não pára de chorar, já que não está com fome. Frustrada, a mãe sacode a criança. Hoje, sabemos que esses atos podem causar danos cerebrais.

Filmes e jogos eletrônicos violentos podem incentivar atos de violência?

Duvido. A não ser que a pessoa já seja vulnerável. Conheci assassinos que assistiram ao mesmo filme de horror dezenas de vezes e fizeram algo muito similar ao que viram no filme. Quando você investiga, descobre que o verdadeiro horror em suas vidas havia acontecido antes de assistirem ao filme – quando foram violentados, por exemplo. Ou seja: pessoas vulneráveis podem ser influenciadas, mas não pessoas normais.

Jonathan Pincus

• Chefe de Neurologia do Hospital de Veteranos de Washington e professor da Escola de Medicina da Universidade de Georgetown• Em 25 anos de carreira, esteve cara a cara com mais de 150 assassinos frios• Entre eles, Kip Kinkell, que matou os pais e atirou nos colegas de Escola em Sprinfield, Oregon

"A pobreza não pode ser usada como a principal explicação para os crimes cruéis"

Na Super Interessante Endereço desta matéria:
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